do tratado da reforma da inteligência

"tudo o que acontece na vida ordinária é vão e fútil ....As coisas que mais frequentemente ocorrem na vida, estimadas como o supremo bem pelos homens, a julgar pelo que eles praticam, reduzem-se, efetivamente, a estas três, a saber, a riqueza, as honras e o prazer dos sentidos. Com estas três coisas a mente se distrai de tal maneira que muito pouco pode cogitar de qualquer outro bem. ... Assim, parecia claro que todos esses males provinham disto – que toda felicidade ou infelicidade reside numa só coisa, a saber, na qualidade do objeto ao qual nos prendemos pelo amor. De fato, nunca surgem disputas por coisas que não se ama; nem há qualquer tristeza se as perdemos; nem inveja, se outros a possuem;nenhum ódio e, para dizer tudo numa palavra, nenhuma pertubação da alma (animus). Ao contrário, tudo isso acontece quando amamos coisas que podem perecer, como são aquelas que acabamos de falar. Mas o amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma de puro gozo, isento de qualquer tristeza..."

segunda-feira, 24 de setembro de 2012





sou tudo que sinto enquanto me faltas
e é quando sonegas tua voz que te conheço
à sombra do medo durmo sossegada
na parecença do breu construo pássaros de papel
com suas asas imóveis e olhar gradeado
nas noites quietas, mais é abundante o orvalho
a respiração de nuvens brancas
pede água a plenos pulmões

porque desfrutei de um solo fértil
jamais me perdoarei o fracasso em cultivá-lo
no tempo ávido que devora com mandíbulas cínicas
sou minha própria plateia
lá fora, cães ferozes rosnam por liberdade
mesmo com todo o seu perigo
será que vou encarar minha morte
sem jamais ter sentido que vivi?
quantas mortes a cada escolha evitada,
em cada pensamento natimorto

há um quanto de verdade que se consegue suportar
já que a visão da descoberta
pode trazer à tona a vontade de arrancar os próprios olhos

quero ser condenada a escapar da vida perigosamente segura
abrir à porta uma pequena fresta

não me desvencilhei daquela primeira pele
e ainda assim, permaneço predadora
minha autoconsciência vem tarifada pelo desespero
e a inocência me matou de fome

se me afasto do conforto do rebanho
não estou fadada a uma vida vigilante
tal qual aquela de um mentiroso?

falo comigo não muito alto
temendo escutar tudo que digo
acumulo mentiras em uma poça estagnada
que evapora ao sol do meio-dia


(de BREU RENDADO)

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