do tratado da reforma da inteligência

"tudo o que acontece na vida ordinária é vão e fútil ....As coisas que mais frequentemente ocorrem na vida, estimadas como o supremo bem pelos homens, a julgar pelo que eles praticam, reduzem-se, efetivamente, a estas três, a saber, a riqueza, as honras e o prazer dos sentidos. Com estas três coisas a mente se distrai de tal maneira que muito pouco pode cogitar de qualquer outro bem. ... Assim, parecia claro que todos esses males provinham disto – que toda felicidade ou infelicidade reside numa só coisa, a saber, na qualidade do objeto ao qual nos prendemos pelo amor. De fato, nunca surgem disputas por coisas que não se ama; nem há qualquer tristeza se as perdemos; nem inveja, se outros a possuem;nenhum ódio e, para dizer tudo numa palavra, nenhuma pertubação da alma (animus). Ao contrário, tudo isso acontece quando amamos coisas que podem perecer, como são aquelas que acabamos de falar. Mas o amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma de puro gozo, isento de qualquer tristeza..."

quarta-feira, 20 de abril de 2011





Quem tiver a oportunidade de fuçar nas estantes das livrarias, detenha-se nos poemas de Luis Dolhnikoff, em seu livro LODO, publicado pela Ateliê Editorial, 2009. Trago um deles, para atiçar a curiosidade dos leitores:



Réquiem para um cão morto




não choro mais a morte do meu cão
agora transformada em decassílabo




mas não por ter-se transformado em ritmo
que oscila entre o heroico e o imperfeito
como ele próprio entre o imperfeito e o heroico



porém porque sua perda é uma presença
mais fiel, mais companheira que os cães



(que jamais abandona o novo dono
sombra da sombra que jaz a seus pés




mas cujo corpo, morto, habita a alma
como um corpo estranho entranhando um corpo
aviva a carne morta em carne viva)




e porque sua perda é uma tal presença
não há mais por que chorar essa perda



(porque chorar é para encher de lágrimas
o vazio que as lágrimas esvaziam
ao transbordar-se do vazio do olhar)