do tratado da reforma da inteligência

"tudo o que acontece na vida ordinária é vão e fútil ....As coisas que mais frequentemente ocorrem na vida, estimadas como o supremo bem pelos homens, a julgar pelo que eles praticam, reduzem-se, efetivamente, a estas três, a saber, a riqueza, as honras e o prazer dos sentidos. Com estas três coisas a mente se distrai de tal maneira que muito pouco pode cogitar de qualquer outro bem. ... Assim, parecia claro que todos esses males provinham disto – que toda felicidade ou infelicidade reside numa só coisa, a saber, na qualidade do objeto ao qual nos prendemos pelo amor. De fato, nunca surgem disputas por coisas que não se ama; nem há qualquer tristeza se as perdemos; nem inveja, se outros a possuem;nenhum ódio e, para dizer tudo numa palavra, nenhuma pertubação da alma (animus). Ao contrário, tudo isso acontece quando amamos coisas que podem perecer, como são aquelas que acabamos de falar. Mas o amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma de puro gozo, isento de qualquer tristeza..."

sábado, 1 de setembro de 2007


certamente se sabia

que aquele lugar não passava de um sonho,
branco e chumbo se encontrando no piso

feito de pedras
lisas e gastas de tanto uso,
nas paredes o confronto
das peças

de um cimento amarelo ocre quase creme
com o vermelho marrom tijolo escuro dos tijolos
faz figuras
estamos aqui, na estação
e o claro escuro silencioso do lugar nos fala
é estação sem trem
no chão se divisa linhas orientadoras de fluxo
incontestes
puseram-se algumas palavras de comando
no final de cada uma daquelas linhas

( atenção, espere, embarque ...)
o que fazia ainda maior o silêncio da estação
as figuras das paredes

pareciam querer contar uma história
um mesmo personagem repetia-se

invariavelmente em muitas cenas
e à superfície de cada momento
a sensação de que se vai partir
mesmo que não se divise os trilhos
mesmo que não se imagine possível

um trem ali chegar
sabe-se que se vai partir
e então, irrompe de dentro a uma sala,

onde devia ser a administração
um homem preto, velho
de sapatos, terno e chapéu brancos
e no bolso do terno branco
o pequeno detalhe de uma ponta de lenço preto
dando-se a mostra
e então senta-se a uma pequena mesa
(redonda
feita em simples madeira
de cor crua sem verniz
posta junto à porta)
e rompe o silêncio
e fala
- tudo acontece

quando os sinais começam a se repetir -
pega então um anel largo
e puxa para si o vaso

que estava ao lado de fora da porta,
junto à mesa –
vaso em vidro fosco
feito de duas partes
um bojo não maior em largura
que ambas as suas palmas
lado a lado postas em concha
e um pescoço comprido e sinuoso –
e faz que o anel passe o gargalo do vaso
e o deixa
envolvendo o pescoço
e em tudo isso
funda-se uma só certeza
de que apesar de não se ver o trem
e tampouco os trilhos
se vai partir



Jaime Medeiros Jr

Nenhum comentário:

Postar um comentário