Ontem terminei de ler O Menino do Dedo Verde, havia escutado muitas pessoas elogiar o livro. É indiscutivelmente um belo livro. Também havia escutado muitas vezes repetirem uma comparação com O Pequeno Príncipe, no Brasil acho que ainda mais reforçada; pois D. Marcos Barbosa fez a tradução de ambos. Ambos falam de um menino. De sua descoberta do mundo. E de flores. Ambos são profundamente metafóricos. Mas me parece que devemos aprofundar um pouco mais a nossa comparação. Descobrindo não somente semelhanças, mas também suas diferenças.
De um lado temos o principezinho que deixa a sua casa (asteróide), na qual cuida de uma rosa frágil, que necessita de seus cuidados para continuar a viver. A flor aqui se revela como símbolo de fragilidade. De outro lado Tistu não está preocupado em não ferir quem o cerca, mas sim em mudar o mundo, fazendo vingar flores e plantas de qualquer substrato que se lhe apresente. Pois qualquer coisa carrega em si sementes de flores. Aqui, portanto, as flores não significam o frágil, mas sim a força e o vigor de quem é capaz de mudar tudo. As flores aqui mais contestam do que testemunham as coisas do mundo.
Acho que como toda boa história, ambos nos levam a confrontar a morte. Mas o que nos diz um e outro sobre este mesmo tema. O principezinho morre, pois se entrega a picada de uma serpente que é capaz de lhe levar de novo a sua casa. Onde encontrará a rosa que ele deixou, e a quem ama. Já Tistu constrói uma escada que o leva ao céu. Para um a morte é um remédio, que nos leva a origem. Para outro, como nos diz Ginástico, a morte é o único mal contra o qual as flores nada podem.
O que nos leva o concluir de certa forma que ambos são diametralmente opostos. E neste caso, complementares. Um é o que poderíamos rotular como um livro de sabedoria. O outro como um livro de esperança (ilusão). Ambos infinitamente belos.