e dei de olhos na marília de dirceu
do gonzaga
me enterneci com a pequenez
da edição de bolso, compacta, da L&PM
abri o livro
e de um sopetão acabei por ler as 9 primeiras liras
novamente me enterneci
vendo gonzaga a demonstrar a marília que o amor é natural
e que tudo na natureza ama
portanto ela não poderia ir contra a natureza
devendo se entregar ao amor
ouçam contudo como o diz a ela
"Em torno das castas pombas,
Não rulam ternos pombinhos?
E rulam, Marília, em vão?
Não se afagam com os biquinhos?
E a provas de mais ternura
Não os arrasta a paixão?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção? "
Como não amar estas singelas palavras
que cantam a necessidade de um amor feito também em nossos sentidos
mas sem a necessidade de se dar à derrama
mas todo entregue à sugestão
outra pequena lição
vem destes versos da lira II:
"Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim."
ou nestes da lira IX:
"As abelhas, nas asas suspendidas,
Tiram, Marília, os sucos saborosos
Das orvalhadas flores:
Pendentes dos teus beiços graciosos
Ambrósias chupam, chupam mil feitiços
Nunca fartos Amores."
me restou a questão
quem faria hoje versos a sua amada?
depois; quem cantaria os beiços de sua amada,
sem se entregar a ironia tão pós tudo que vivemos?
por último; o que é o nosso ouvido, o nosso gosto,
ele é realmente nosso
ou tão somente filho da contextura que nos sitia?